Dizem que o contrário do amor é o ódio, mas olha, quem disse isso não entendia nada de amor, ou de ódio, ou de antônimos. Não é preciso ser um gênio para saber que o contrário do amor é a indiferença.

Se você procurar no dicionário a palavra indiferença, vai achar “Apatia“, “Negligência“, “Insensibilidade“, “Inconsciência” e uma porção de eticétera, mas quer mesmo saber o que é indiferença?

Indiferença é quando um telefone toca, a pessoa pega, vê quem é e bota de volta no bolso. Isso é indiferença.

E aí você percebe que odeia essa tal indiferença. Percebe que preferia que a pessoa tivesse atendido o telefone e falado um monte de palavrão, te xingado por horas seguidas, chamado a sua mãe de puta, o seu pai de viado e até a sua vó, que nem mais viva é, do nome mais feio que viesse a mente. Mas nem para isso a pessoa se deu ao trabalho.

Você entrou para a lista de pessoas que aquela pessoa não se dá ao trabalho. E se essa lista não existia, ela acabou de ser criada, e o pior, com o seu nome no topo.

Você então começa a se lembrar de todas as pessoas com quem você foi indiferente, e se você já estava se sentindo o escarro do mendigo mais sujo da rua, você começa a se sentir a barata que se alimenta desse escarro. E se você for mais fundo, vai acabar se sentindo a gosma dessa barata, então é melhor parar por aí, porque de nada adiantaria se sentir pior, numa situação que já é ruim o suficiente por si só.

Você passa a ter ódio de você. Passa a ter ódio por não ser marcante, por não ter aquele amontoado de características que de jeito nenhum fariam alguém ser indiferente a você. Você não é especial, não se destaca na multidão, e por mais interessante que você seja, e você é, não é interessante o suficiente. Você passa a ter ódio de você e da situação de merda, mas não consegue ser indiferente.

Porque dói, e você não é nenhum monge tibetano pra conseguir ser indiferente a dor.